terça-feira, 22 de maio de 2007

De quem é a culpa?

O artigo encomendado pelo professor de Jornalismo Online, Lucas Reino, aos alunos do 5° semestre do curso de Jornalismo da Unigran, merece uma reflexão. Especialmente à luz do texto do jornalista e professor da Uniderp, Alexandre Maciel, cuja leitura é sugerida, e que, entre uma consideração e outra, aborda a questão do release.

Quem ler o meu perfil neste blog vai saber que atuo na área de comunicação. A título de informação, entre uma e outra passagem como secretário de Administração e chefe de Gabinete do Poder Executivo, estou há longos anos na Coordenadoria de Comunicação do governo municipal de Caarapó. Desde 1986, tenho atuado como jornalista estabelecido, publicitário e profissional do marketing estabelecido e relações públicas estabelecido (aprendemos, no curso de Comunicação Social, que essas três áreas compõem uma Assessoria de Comunicação).

Mas vamos à questão do release.
Segundo nos ensina o professor Lucas Reino em post de seu blog, “releases são documentos divulgados por assessorias de imprensa para informar, anunciar, contestar, esclarecer ou responder à mídia sobre algum fato que envolva o assessorado, positivamente ou não. É, na prática, uma declaração pública oficial e documentada do assessorado e serve de assunto, um roteiro, uma sugestão de pauta, mas do ângulo de quem o emite.”

De fato. Pode-se dizer que, entre as diversas finalidades do release, uma delas é divulgar as ações positivas de uma empresa, administração pública, pessoa... Se essa divulgação é feita pelo assessor, obviamente ela terá o ângulo do assessorado. O assessor pretende, conforme explica o jornalista Alexandre Maciel, que “o leitor reconheça as ações do seu assessorado como benéficas para o bem estar social.”

Em uma primeira análise do texto postado pelo professor Lucas Reino, parece haver uma crítica (implícita) em relação ao jornalista “assessor de imprensa” por conta dos releases regularmente distribuídos. Principalmente por causa de sua replicação nos sites, invariavelmente publicados ipsis litteris.

O assessor de imprensa abastece a mídia com informações por meio de releases. Os jornalistas dos meios de comunicação deveriam, no mínimo, ‘desconfiar’ da veracidade dessas informações, e realizar um dos mais sagrados deveres de sua profissão: apurar. Se for o caso – como deveria ser sempre -, produzir a notícia de forma “imparcial, objetiva, mediadora, contestadora e baseada na neutralidade que deveria nortear a ação do profissional que elabora a notícia final”, conforme ensina Alexandre Maciel.

Como isso, via de regra, não ocorre, fica a pergunta: de quem é a culpa?

Confira a replicação de um release nos sites A, B, C, D, E e F.

Note-se que todos os sites publicaram a matéria exatamente como ela foi encaminhada, sem qualquer informação complementar ou modificação.

A matéria Caarapó prepara a IV Festa do Leite poderia ser complementada, por exemplo, com informações sobre o rebanho leiteiro do município, o que a produção representa para a economia municipal, a posição de Caarapó no ranking econômico estadual, a eventual existência de associações de produtores, incentivos do Poder Público para a produção de leite, entrevista com produtores locais, a importância da festa (na visão dos produtores), o evento como vitrine do setor leiteiro e como lazer para a população da zona rural, alternativas de agregação de valor à matéria-prima...

Talvez por requererem uma profunda apuração - elaborar uma matéria com riqueza de detalhes dá trabalho e o redator de notícia não quer sair da sua condição de "jornalista sentado" - os releases são publicados ipsis verbis.

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